Dia dos Pais e a Síndrome de Brás Cubas
Por Xico Sá
Toda vez que um amigo tem um filho, escuto uma sentença comovente, sempre a mesma, mais ou menos assim reproduzida: “Não tem nada igual nesse mundo, é uma sensação única, mudei a minha vida”.
Não duvido.
Escuto e fico ruminando aquela comoção por longos dias e noites. A primeira vontade é pegar a primeira maluca que aparecer pela frente e fazer também um lindo bruguelo.
Tempinho depois, costumo pensar no velho Brás Cubas, o solteirão sábio e maluco criado por Machado de Assis.
É dele outra frase que, de alguma maneira, mesmo tingida de negatividade, também comove: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.
Ao contrário dos que se orgulham em se perpetuarem nos herdeiros, o velho Cubas, que amou muito e já havia sonhado com um rebento, purga-se da culpa de não ter deixado na terra alguém para sofrer as mesmas e inevitáveis dores humanas aqui por baixo.
Filosofia de consolação ou não, há um alívio, ufa, na assertiva da melancólica figura.
Tomado por vontades paternas a cada criaturinha que se mexe na minha frente, como meus sobrinhos, esse ter ou não ter filho virou uma luta de boxe no cocoruto.
É com esse ringue armado na cabeça chata que atravesso o massacre publicitário de mais uma semana que antecede o Dia dos Pais.
Ter ou não ter?
Tive a sorte de ter ajudado a criar dois lindos meninos, filhos de uma ex, agora rapazes. Peguei novinhos. De certa forma são também filhos. Muitíssimo. De certa forma abaixaram o fogo do meu instinto da paternidade.
Ter ou não ter?
E a reflexão continua: sob pena de ser, mais adiante, um avohai – mistura de avô e pai-, teria que engravidar logo uma moça disposta à maternidade.
A hora é agora, seu Brás Cubas?
Voltaremos ao tema, quem sabe com o filho já encaminhado, até o próximo domingo.
(BLOG FJNOBRE)
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